*************** Em 29 de Janeiro de 1983 realizou-se o espectáculo no Coliseu, encontrando-se José Afonso já em dificuldades, devido ao seu estado de saúde.... recordando o "Natal dos simples":
Porque subscrevo na totalidade, faço ECO de quem assim escreveu... recusando-me a pactuar com a... hipocrisia natalícia!
Crónica de um Natal impossível
Por Pedro Barroso
HOJE NÃO ME APETECE Natal. Não acredito na bondade por decreto. Não me deslumbro com as luzes e os sinos tocando aleluias de alegria. Acho tudo isso uma treta de consumo. E, num país sem dinheiro, nem o consumo pode circular no excesso destemperado da saison. Porque não havendo um, não pode existir o outro. E o povo, sem poder de compra, assiste ao sonho compensatório e impraticável de quebrar fronteiras em Schengens distantes. E compra castanhas assadas em discutido embrulhamento, nas tais controversas folhas da lista amarela, como tradição. É pouca e controlada felicidade. Farinhenta vida, a do adorador de sonhos. Fraca alegria para a capital da Europa, ao que parece, supostamente passando por aqui. Tratados de Lisboa. Êxitos imensos. Glória in excelsis. Pois. É pena. Porque só não temos é dinheiro para cantar. Este é, seguramente, dos Natais mais pobres de sempre dos últimos anos para o Povo português. Com salários a diminuírem, pensões insignificantes, ajuda nos medicamentos a baixar, prestações das casas a subir desenfreadamente todos os meses, desemprego alarmante. E contudo estamos de parabéns. Brilhantes acordos Europeus. Bravo. Podemos circular de Tallin a Lisboa, sem parar em nenhuma fronteira. Schengen alargou. Quase deixou de ser necessário o velho passaporte. Meu querido companheiro de viagem, meu cúmplice de fugas e secretos desvios de percurso, meu medidor de mim, numa juventude que foi – a medo, mas foi – viajante e transgressiva. Hoje podemos celebrar Natais – para quem neles acredite – com Pais do dito cujo vindos directamente da Noruega sem passaporte. Renas incluídas, se estiverem vacinadas, supõe-se. ASAE oblige. Um escândalo.
Não me vejo aqui. Amigos, acreditem: - não sei onde pertenço. O facto é que, contudo, também não me vejo em mais parte alguma. Com efeito, a praia tropical, sinceramente - que alguns amigos praticam como fuga compulsiva a uma época de convívio familiar por obrigação - também não me seduz por aí além. Dezembro é bonito com neve e frio. Com lareira e aconchego. Sou europeu daqui, deste lado do tempo e do mar. Desta gente marinheira e montanheira. Deste cheiro a sardinha assada no Verão. Dos cavalos lusitanos. Do bacalhau com grão. Da paixão de Florbela e da angústia existencial de Vergilio. O Ferreira, claro, meu querido professor. Queime-se, pois, a cavaca e o chambaril. Demos as mãos na noite de angústia e saboreemos a nossa pequenez contente. Misturemos leite e farinha e façamos os coscorões da ilusão. Cortemos no açúcar, que está caro. E troquemos de pequenas prendas com um sorriso quase conformado. E disfarcemos a tristeza. Eu não devia escrever isto. Porque é suposto estar alegre. Mas andam-me a roubar, aos poucos, um outro País maior. Onde foi palavra, e gesto, e esperança e teve significado o verbo acreditar. Como sobreviver, pois, ao Natal de Sócrates, após estes anos de deslize em perda do poder de compra, sob o mais hipócrita sorriso de alegrias marginais de foro europeu, que nos aportam nada? Que me interessa que me ofereçam viagem sem fronteiras até à Estónia, se o povo tem de contar os tostões para ir visitar a velhota que está lá, no frio, afinal aqui tão perto? Numa lareira acesa, sozinha, algures, numa qualquer casa perdida, lá para a Guarda, Arganil, Bragança, Mértola, Mação, Melgaço? E quantas vezes é um telefonema meigamente mentiroso que vai ter de disfarçar a mágoa secreta da impotência? Ah! Meu velho passaporte de partir!... Vou passar a consoada dos outros, ricos e pobres, contigo no meu peito. Leva-me longe daqui e que eu não volte. Ou volte sempre, que o meu viajar é eterno em tuas mãos. E eu amo-te tanto como a vida que não tenho, o sonho inacabado do Império adiado e adormecido de coisas superiores que habita em mim. E dá-me os longes todos que encontrares, que eu vou gostar. E não preciso de aviões, nem renas, nem Schengens abertos para circular no sonho. Nem no Mundo. Mas noutro. Feito de homens melhores, e duma total e absoluta felicidade. Que este fede. E assim não há poema. Quanto mais Natal.
Este texto foi roubado [aqui], porque... é preciso fazer eco das palavras corajosas e sabedoras!!!!
Violência nas escolas
Por Alice Vieira
LI NUM JORNAL que a senhora Ministra da Educação está contente. E, quando os nossos governantes estão contentes, é como se um sol raiasse nas nossas vidas.
E está contente porque, segundo afirmou, a violência nas escolas portuguesas afinal não existe.
Ao que parece andamos todos numa de paz e amor, lá fora é que as coisas tomam proporções assustadoras, os nossos brandos costumes continuam a vingar nos corredores de todas as E B, 2/3, ou como é que as escolas se chamam agora.
Tenho muita pena que os nossos governantes só entrem nas escolas quando previamente se fazem anunciar, com todas as televisões atrás, para que o momento fique na História. É claro que assim, obrigada, também eu, anda ali tudo alinhado que dá gosto ver, porque o respeitinho pelo Poder é coisa que cai sempre bem no coração de quem nos governa, e que as pessoas gostam de ver em qualquer telejornal.
Mas bastaria a senhora Ministra entrar incógnita em qualquer escola deste país para ver como a realidade é bem diferente daquela que lhe pintaram ou que os estudos (adorava saber como se fazem alguns dos estudos com que diariamente se enchem as páginas dos jornais) proclamam.
É claro que não falo daquela violência bruta e directa, estilo filme americano, com tiros, naifadas e o mais que houver.
Falo de uma violência muito mais perigosa porque mais subtil, mais pela calada, mais insidiosa. Uma violência mais ”normal”.
E não há nada pior do que a normalização, do que a banalização da violência.
Violência é não saberem viver em comunidade, é o safanão, o pontapé e a bofetada como resposta habitual, o palavrão (dos pesados…) como linguagem única, a ameaça constante, o nenhum interesse pelo que se passa dentro da sala, a provocação gratuita (“bata-me, vá lá, não me diga que não é capaz de me bater? Ai que medinho que eu tenho de si…”, isto ouvi eu de um aluno quando a pobre da professora apenas lhe perguntou por que tinha chegado tarde…).
Violência é a demissão dos pais do seu papel de educadores - e depois queixam-se nas reuniões de que “os professores não ensinam nada”.
Porque, evidentemente, a culpa de tudo é sempre dos professores - que não ensinam, que não trabalham, que não sabem nada, que fazem greves, qualquer dia - querem lá ver? - até fumam…
Os seus filhos são todos uns anjos de asas brancas e uns génios incompreendidos.
Cada vez os pais têm menos tempo para os filhos e, por isso, cada vez mais os filhos são educados pelos colegas e pela televisão (pelos jogos, pelos filmes, etc. ). Não têm regras, não conhecem limites, simples palavras como “obrigada”, “desculpe”, “se faz favor” são-lhes mais estranhas que um discurso em chinês - e há quem chame a isto liberdade.
Mas a isto chama-se violência. Aquela que não conta para os estudos “científicos”, mas aquela de que um dia, de repente, rompe a violência a sério.
NÃO SE LHE CONHECIA OBRA DE CULTURA, drama ou romance. Não se lhe conhecia curriculum nem de cineasta, nem de vídeo amador. Não se lhe conhecia nenhuma especial sapiência em coisas de Rádio ou Televisão. E contudo. Fundador do Partido Socialista, já foi também Presidente dos Conselhos de Administração da Agência Lusa e da Portugal Global; já foi também administrador da Caixa Geral de Depósitos e do Banco Espírito Santo; já foi também Presidente do Banco Fonsecas & Burnay e da filial portuguesa do Barclays; já foi também deputado pelo Partido Socialista e até Secretário de Estado da Administração Escolar, num governo chefiado por Mário Soares (1976/78). Veio pois, do Banco de toda a gente, quando este acaba, para a Caixa de toda a gente, quando esta expande. Talvez como prémio. Diz-se que, aí, houve mau entendimento com o Administrador principal. Saiu da dita CGD e logo arranjou um empregozito modesto na gestão da RTP. “Convite”, ao que parece, que é sempre como se contrata a este nível cá no burgo. Uma surpresa para tantos homens de televisão elegíveis. Como gestor implacável. Diz-se que é um homem de miúdos. Passe a expressão, hoje em dia equívoca e maldosa... Falo de trocos, tostões, pataqueira, entenda-se. Diz-se dos garimpeiros do cêntimo. Verificadores de contas, nunca investidores, com ordens rigorosas para poupar. Coisa que, ao que parece, sabe fazer. Advogava que nunca deve investir-se nem em programas musicais, nem culturais, pois não dão audiências. Foi-me dito na cara, em passados encontros, posso afirmá-lo, portanto. Tem uma irritabilidade fácil e, contudo, tem sabido resistir a denúncias públicas das suas muitas benfeitorias, haveres, poderes, cargos e tachos. Em vão, jornais tentaram implicá-lo em tentaculares ligações. E denunciar-lhe os mil e um lugares, vencimentos e domínios. Imperturbável, o seu prestígio fica sempre incólume. De pedra e cal. Tem defensores públicos que vêm à liça defendê-lo ao mínimo ataque. Governar para o tostão tem sido o investimento de regime na cultura do povo. Se ele ficar progressivamente bimbo e recuado no gosto, não há problema. Imbecilize-se, mas haja pé-de-meia. O Estado assim entende a função da rádio e da televisão próprias. E depois dá-se um fenómeno curioso – se não soubermos nem quisermos expandir o sentido crítico, a qualidade e a modernidade, o povo passa a consumir a mediocridade. E aí as audiências retornam. Bovinas mas retornam. É o primeiro presidente da RTP a ser nomeado por um Governo e a ser reconduzido por outro Governo de outro partido. E continua dono do futuro, ao que parece. Que ninguém o conteste. O empregado Rodrigues dos Santos que o testemunhe, pois escreve nas horas vagas e, para isso, parece que não anda a cumprir os horários. E dá com a língua nos dentes em assuntos que não deve. Está mal. Ter tachos, afinal, é feio. Agora, espantosamente, o homem sabe ainda mais comprovadamente de tudo. Acaba de ser nomeado presidente das Estradas de Portugal. Pimba! Da Banca, à Televisão, às Estradas. Nem Nuno Rogeiro faria melhor. Conclusão: Eu quero mudar o meu nome. Já deu entrada no cartório da minha terra que, em vez de António Pedro, quero passar a ser definitivamente, Almerindo. Apesar de um pouco teutónico, gosto muito. Está decidido. Ponto. Não aceito menos. É um nome muito bonito e paga demasiado bem, para lhe ficar indiferente. Sou um óptimo gestor, o pessoal é que anda por aí distraído. Somítico, miudinho, minucioso, jacobino, avarento, agarrado, terrível. Serei tudo isso. Tenho é andado adormecido entre o sonho e a viagem. Mas prometo reencaminhar-me de forma severa e exemplar. Aproveitem-me, por favor, desatentos indicadores e convidadores de cargos deste país. Serei excepcionalmente produtivo. Cortiças, vinho do Porto, futebol, pescas, cereais, açúcares, azeites, banca, orquestras, televisão, ramas de petróleo, tangerinas, moda, helicópteros, qualquer coisa. Prometo lucros. Resultados garantidos. Como tal, mudo o nome e inscrevo-me em tudo o que for preciso. Trigo limpo. Ao vosso dispor. Atentamente,
Hoje a Maia cantou ZECA AFONSO!! E foi a cantar "Grândola Vila Morena" que tudo começou....
A passar um pouco das 16:00H, no Fórum da Maia, com a casa completamente cheia, cantamos Zeca Afonso.
Completando hoje o vigésimo aniversário sobre a sua fundação, a Associação José Afonso - AJA, concretizou no fórum da Maia, um encontro de amigos.
Várias vozes, cantando ou lendo, fizeram-nos recordar momentos significativos da vida publica do Zeca, fazendo sempre uso da canção com função pedagógica. Foram eles: Ajaforça, Amílcar Mendes, Ana Afonso, António Ramalho, Carlos Andrade, Carlos Jorge, Fernando Soares, Gil Filipe, João Teixeira, José Carlos Barbosa, José Silva e Tino Baz. Na parte final, "matando" as saudades de todos nós, cantaram, emocionaram e encantaram os veteranos cantores de Abril: Francisco Fanhais, José Mário Branco e Tino Flores.
De tudo o que senti... ficou a enorme vontade de... REPETIR!...
As Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC), há quem as designe de Actividades de Empobrecimento Curricular, nasceram algo tortas e, como diz a sábia voz do povo, «aquilo que nasce torto, tarde ou mal se endireita».
Não querendo tomar a parte pelo todo, não me atrevo, para já, a juntar-me ao exército, que tem visto as suas fileiras engrossarem, daqueles que diabolizam as AEC. Apesar de não ser novidade para ninguém que me conheça que não concordo com o modelo adoptado nem com os objectivos (se é que estes existem) que estas se propõem alcançar. Todavia, posso afirmar, convictamente, que este modelo contribui para o empobrecimento dos professores envolvidos no projecto.
A trabalharem desde Setembro sem receberem um cêntimo pelos seus serviços é absolutamente inaceitável. Não esqueçamos que estes profissionais trabalham a «Recibo Verde», portanto há uma boa parte do ano em que não recebem coisa alguma. Isto já é preocupante. Pensar que estas pessoas desde Julho que não auferem qualquer vencimento suscita-me algumas questões: Quem paga a renda / prestação da casa? Quem paga a alimentação? Quem paga a água, a luz, o telefone? Como é que se vive assim? Não esqueçamos que muitos têm que se deslocar em transporte próprio para a (s) escola (s) onde leccionam. Não sei se esta situação se está a passar em todo o país. Em Viseu esta é uma realidade dramática. Parece que os vencimentos estão a ser processados… estavam… estarão… Ninguém sabe ao certo.
O que sei é que há gente a vivenciar situações dramáticas. Um amigo disse-me que não sabe se o dinheiro que ainda lhe resta será suficiente para o combustível que lhe permita deslocar-se às várias escolas em que trabalha. Aqui está outra aberração: contratam imensa gente e depois atribuem apenas 12 horas a cada professor, horas distribuídas por distintos locais, obrigando a várias deslocações diárias.
Se não expusesse esta situação vergonhosa e lamentável hoje, tenho a sensação de que nem dormiria em paz. Outros há que estão, dado o adiantado da hora, tranquilamente a sonhar com a cabeça na almofada. Enquanto isso, muitos fazem das tripas o coração, encetando majestosos malabarismos, para fazerem face às necessidades básicas do quotidiano.
Senhora, partem tão tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos, tão doentes da partida, tão cansados, tão chorosos, da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida. Partem tão tristes, os tristes, tão fora de esperar bem que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém.
A ESCOLA sozinha jamais modificará sociedades jamais "salvará" um país!
A pedagogia do sucesso assenta apenas nos pilares seguros sólidos e firmes de uma comunidade feliz EQUILIBRADA com a vidinha organizada devidamente estruturada com disponibilidades para participar para colaborar para se "dar" para AMAR as suas crianças o país e o mundo...
a ESCOLA actuando isolada é apenas uma insignificante gotinha dispersa ineficaz para saciar as diferentes sedes de qualquer sociedade.
Do muito que está mal no nosso país há culpados são vivos actuais e reais de carne e osso mas como não conseguem equacionar esta verdade ( porque também são maus na matemática) optam por fazer dos professores da ESCOLA os culpados de tudo os seus bodes expiatórios...
Estou cansada desencantada decepcionada infeliz... A minha profissão violenta-me em cada dia em cada ano que passa!
Mais vale ser um cão raivoso do que um carneiro a dizer que sim ao pastor o dia inteiro e a dar-lhe da lã e da carne e da vida e do traseiro mais vale ser diferente do carneiro um cão raivoso que sabe onde ferra olhos atentos e patas na terra.
(Coro): Viva, viva o cão raivoso tem o pêlo eriçado seu dente é guloso e o seu faro ajustado Cão raivoso, cão raivoso, cuidado.
Mais vale ser um cão raivoso que um caranguejo que avança e recua e depois solta um bocejo e que quando fala só se houve a garganta no gargarejo mais vale não ser como o caranguejo um cão raivoso que sabe onde ferra olhos atentos e patas na terra.
(Coro)
Mais vale ser um cão raivoso que uma sardinha metida, entalada na lata educadinha pronta a ser comida, engolida, digerida e cagadinha Mais vale ser diferente da sardinha um cão raivoso que sabe onde ferra ferra fascistas e chama-lhe um figo olhos atentos e patas na terra.
(Coro)
Mais vale ser um cão raivoso dentes à mostra estar sempre pronto a morder e a dar resposta a toda e qualquer podridão escondida dentro da crosta dentro da crosta das belas ideias gato escondido de rabo de fora dentro da crosta das belas ideias gato escondido de rabo de fora.
Adriano, o homem culto que disponibilizava o seu saber ao serviço do despertar de consciências fazendo da canção UM ALERTA para os problemas reais da época
Ainda a emigração: quem troca o certo pelo incerto motivos há-de ter...
Esta foi das primeiras canções de intervenção que ouvi na minha juventude. A minha irmã mais velha explicou-me que o Adriano dizia Galiza, porque na altura, não convinha dizer... Portugal...
Tempos de emigração em terras de emigração
"quem troca o certo pelo incerto motivos há-de ter!...."
Este parte, aquele parte e todos, todos se vão. Galiza, ficas sem homens que possam cortar teu pão
Tens em troca, órfãos e órfãs tens campos de solidão tens mães que não têm filhos filhos que não têm pai.
Coração, que tens e sofre longas ausências mortais viúvas de vivos mortos que ninguém consolará.
1972- recurso à metáfora...fundamental para a mensagem passar e sobreviver...
Eu vou ser como a toupeira Que esburaca Penitência, diz a hidra Quando à seca Eu vou ser como a jibóia Que atormenta Não há luz que não se veja Da charneca
E não me digas que agora Estás à espera Penitência diz a hidra Quando à seca E se te enfias na toca És como ela
Quero-me à minha vontade Não na tua Ó hidra, diz-me a verdade Nua e crua Mais vale dar numa sarjeta Que na mão De quem nos inveja a vida E tira o pão
e os mortos amados .....................batem à porta do poema...
poucos cantaram a morte dum modo tão belo...
a emoção é contagiante eternamente comovente eternamente ÍMPAR...
Canção com lágrimas...
Eu canto para ti um mês de giestas Um mês de morte e crescimento ó meu amigo Como um cristal partindo-se plangente No fundo da memória perturbada
Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa E um coração poisado sobre a tua ausência Eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês Em que os mortos amados batem à porta do poema
Porque tu me disseste quem me dera em Lisboa Quem me dera em Maio depois morreste Com Lisboa tão longe ó meu irmão tão breve Que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro
Eu canto para ti Lisboa à tua espera Teu nome escrito com ternura sobre as águas E o teu retrato em cada rua onde não passas Trazendo no sorriso a flor do mês de Maio
Porque tu me disseste quem em dera em Maio Porque te vi morrer eu canto para ti Lisboa e o sol Lisboa com lágrimas Lisboa à tua espera ó meu irmão tão breve Eu canto para ti Lisboa à tua espera...
Abertura do comércio aos domingos de tarde e feriados
Se nas localidades houvesse mais espaços motivadores, organizados, acolhedores e confortáveis, dedicados à animação de actividades lúdico-recreativas-culturais, gratuitas ou a custos simbólicos
onde as pessoas pudessem conviver, aprender, divertir-se e ocupar os seus tempos livres
certamente que o redutor passeio domingueiro ao shopping, deixaria de ser motivação ... [ISTO], seria desnecessário e as grandes superfícies comerciais certamente ficariam às moscas aos domingos e feriados...
Enfim, por muitas voltas que se dê vamos sempre bater ao mesmo
vamos sempre bater ao fundo da questão: EDUCAÇÃO e CULTURA, enfim, uma sociedade sadia e sabiamente estruturada, UM POVO FELIZ!
recordarei SEMPRE com sorriso os arrepios que sentia quando que as capas dos estudantes mais velhos esvoaçantes acidentalmente roçavam nas minhas pernas...
Capa negra, rosa negra Rosa negra sem roseira Abre-te bem nos meus ombros Como o vento numa bandeira.
Abre-te bem nos meus ombros Vira costas à saudade Capa negra, rosa negra Bandeira de liberdade.
Eu sou livre como as aves E passo a vida a cantar Coração que nasceu livre Não se pode acorrentar.
Vi-te a trabalhar o dia inteiro construir as cidades pr'ós outros carregar pedras, desperdiçar muita força pra pouco dinheiro Vi-te a trabalhar o dia inteiro Muita força pra pouco dinheiro
Que força é essa [bis] que trazes nos braços que só te serve para obedecer que só te manda obedecer Que força é essa, amigo [bis] que te põe de bem com outros e de mal contigo Que força é essa, amigo [bis 3]
Não me digas que não me compr'endes quando os dias se tornam azedos não me digas que nunca sentiste uma força a crescer-te nos dedos e uma raiva a nascer-te nos dentes Não me digas que não me compr'endes
(Que força...)
(Vi-te a trabalhar...)
Que força é essa [bis] que trazes nos braços que só te serve para obedecer que só te manda obedecer Que força é essa, amigo [bis] que te põe de bem com outros e de mal contigo Que força é essa, amigo [bis 10]
O BlogDay foi criado na convicção de que os bloggers deverão ter um dia dedicado ao conhecimento de novos blogs, de outros países ou áreas de interesse. Nesse dia os bloggers recomendarão novos blogs aos seus visitantes.
O que acontecerá no BlogDay?
Durante o dia 31 de Agosto, bloggers de todo o mundo farão um post a recomendar a visita a novos blogs, de preferência, blogs de cultura, pontos de vista ou atitude diferentes do seu próprio blog. Nesse dia, os leitores de blogs poderão navegar e descobrir blogs desconhecidos, celebrando a descoberta de novas pessoas e novos bloggers.
Até quando continuará silenciado o efeito tremendo que as microondas (do super difundido e vulgar microondas doméstico), exercem sobre o organismo humano, em especial a nível das células sanguíneas??
A CIA, o Vaticano e o Governo Portugês são algumas das instituições que tentaram manipular dados da enciclopédia virtual Wikipedia.
Esta decoberta foi possível graças a uma nova ferramenta de busca, o site Wikipedia Scanner, criado por um estudante de doutoramento da Califórnia, e que tem a capacidade de chegar à identidade das pessoas que tentaram alterar conteúdos da Wikipedia, através da localização do endereço IP dos computadores respectivos.
O blogue [zero de conduta] já pôs mãos à obra e descobriu que o Governo Português alterou dados da biografia de José Sócrates relacionados com o seu currículo académico.
Notícia recebida recentemente, via e-mail. A informação detalhada encontra-se [AQUI], também foi publicada [AQUI] :
A QUADRATURA DO CIRCO O bom cidadão por Pedro Barroso O BOM CIDADÃO é um herói do Estado. Só com ele, o Estado se reforça e pode virtualmente planificar o futuro da Sociedade. Se todos ajudassem e aprendessem com este texto exemplar, cumprindo as suas obrigações de cidadãos, o futuro de todos nós seria muito melhor. E a poupança do Governo proporcionaria bem-estar e felicidade a um número mais alargado de portugueses. Infelizmente, nem todos compreendem os deveres de lealdade à Nação e desviam-se nos mais diversos detalhes e vícios de uma carreira ordeira, obediente e conforme.
O bom cidadão nasce sem incomodar demasiado o Estado, para não fazer despesas desnecessárias com fórceps ou cesarianas. Deve, pois, nascer preferencialmente numa cidade desenvolvida e litoral, onde já existam infra-estruturas integradas, para não obrigar à construção de piscinas, mercados, escolas, maternidades, pavilhões ou hospitais escusados.
Se o jovem cidadão nascer em sítios isolados, a sua escola terá decerto poucos alunos e a sua educação dará prejuízo ao Estado, por manifesto desajuste entre o excesso de mão-de-obra e a tão pouca massa discente. É sempre de evitar.
Como aluno, crescerá sem temeridades nem excessos, estudando no limite da sua inteligência, mas sem ambições estranhas nem perigosas, tais como bolsas no estrangeiro ou outros excessivos incentivos. Admite-se que o cidadão, enquanto jovem, faça desporto em estruturas já existentes, mas é recomendável que saiba conter-se em gastos, hábitos, acidentes e doenças, poupando ao Estado radiografias e Betadine.
Serão, aliás, costumes de muita utilidade para o seu futuro. A parcimónia é uma virtude.
O bom cidadão emprega-se cedo e paga os seus impostos. Cinquenta por cento do que ganhar deve ser para o Estado, para que muito justamente este lhe retribua com pontes e estradas com portagens, guichets e Repartições variadas, cujas servem justamente para nelas pagar os referidos impostos, os selos e as taxas recomendadas e exigidas pelas necessidades da Nação.
Na opinião, o cidadão é moderado. Conciliador.
Poderá revelar, até, um criticismo parcial, se o exprimir de forma civilizada no exercício soberano do seu voto consciente. É o seu acto maior de intervenção cívica. Deve cultivá-lo.
O cidadão deve também compreender e acatar as regras da estrada, circular no máximo a 120 km/hora nas auto-estradas e a 50 km/hora nas localidades. Respeitar os seus superiores e as Autoridades e confiar em geral que todo o sistema montado pelo Estado serve para o proteger e ajudar.
A compacta vivência dos transportes colectivos em hora de aperto deve ser entendida como uma sempre agradável prática sensorial de aproximação e intimidade, onde poderá, até, vir a gozar de muito interessantes experiências de contacto humano, sempre enriquecedoras.
Terá direito a 25 dias de férias por ano e a férias matrimoniais, maternais e por nojo ou luto de seus entes queridos, patrocinadas pelo sempre compreensivo Patronato.
O bom cidadão não se mete em desordens, nem participa casos de Polícia, para não incomodar estruturas cívicas, como os Tribunais. Com efeito, estas instâncias estão já assoberbadas com demasiados casos, bem mais urgentes que o roubo da sua carteira ou o assalto por esticão da sua incauta avó. Os Tribunais são estruturas pesadas e dispendiosas que deve evitar-se accionar e se aplicam apenas para conflitos maiores.
Por esse motivo, o cidadão deve, desde cedo, aprender que o crime de assalto, o risco no carro ou as pequenas injustiças que sofrer no dia a dia são apenas encaráveis como impostos indirectos num Estado de Direito, e que têm de se suportar com paciência e estoicismo, pois fazem parte da vida.
O bom cidadão tem a temperança de um muito acreditar que se tornou desacreditar. Não é, por isso, nem demasiado efusivo na celebração, nem demasiado pessimista na derrota. Entende que a vida tem altos e baixos, é preciso compreender e conformar-se com isso. O bom cidadão é, pois, sorumbático.
Compete também ao bom cidadão presenciar as cerimónias públicas e aplaudir. São eventos sempre agradáveis, tais como inaugurações de pontes e mercados, tomadas de posse, visitas ministeriais, etc., com a vantagem de serem gratuitas, frequentadas por gente influente e sempre muito instrutivas.
O cidadão correcto reclama moderadamente ao ouvir os telejornais, mas compreende os esforços de todos os governantes para o bom funcionamento da República, pelo que tolera os erros de gestão, a má prática, a assistência tardia, a bicha nos serviços, o prazo do despacho, a extinção da Maternidade, até os ordenados dos futebolistas. Perdoa tudo, pois reclamar é sempre feio e raramente conduz ao que quer que seja.
O bom cidadão, de resto, deve ser recatado e pouco expansivo, pois os limites sonoros devem ser sempre acatados, e os excessos temperamentais podem provocar doenças graves como AVC’s, picos de tensão alta, apoplexias várias, neurose, depressão, etc.
Os seguros aumentam, mas o cidadão deve pagá-los.
Os impostos aumentam, mas o cidadão deve pagá-los, sem reserva. Até os lucros da Banca, as taxas de juro, os spread’s e euribores e outras coisas, mesmo que não saiba exactamente o que são. Para o seu bom nome se manter, o cidadão deve pagar tudo isso atempadamente. A gasolina, as portagens, a taxa moderadora, a prestação do frigorífico, da casa, do carro. Pagar.
O bom cidadão declara tudo o que ganha, mesmo as gorjetas.
Compete ainda ao bom cidadão ajudar nos peditórios para o cancro, a lepra, a sida, a epidermólise bolhosa, a tuberculose e os Bombeiros pois são, obviamente, casos imprevisíveis que, numa sociedade ideal, não existiriam e não seriam necessários. De facto, o Estado não pode, compreensivelmente, acorrer a todos os desleixados que se deixam indevidamente apanhar pelas mais dispendiosas e graves doenças, nem é sua culpa que tenham adoecido ou que os Bombeiros queiram viaturas novas. Há, pois, que sentir solidariedade pelos seus concidadãos afectados e ajudar sempre, generosamente.
O bom funcionário é a extensão óbvia do bom cidadão.
O bom funcionário é aplicado, pontual, educado e reside na área de trabalho, para não gastar demasiada energia pública no eléctrico ou autocarro e contribuir para um bom ambiente e para a diminuição do buraco de ozono.
Alias a consciência ecológica é um dever do bom cidadão. Deve pôr os vidros no vidrão; os cartões bem limpos nos receptores de cartão; as embalagens depois de devidamente lavadas no recipiente adequado. O bom cidadão decora as cores dos ecopontos modernos e funcionais, contribuindo para uma mais rápida triagem da parte das lucrativas empresas de aproveitamento de resíduos sólidos, que, obviamente, não podem estar a perder tempo com porcarias e lixo sujo e mal encaminhado.
O cidadão exemplar mantém-se até ao limite previsto no seu posto de trabalho - mesmo que sinta alguma dificuldade em lembrar-se onde fica - e morre aos sessenta e cinco anos de idade, depois de uma vida de descontos. Isto para que a Segurança Social lucre com ele, e não tenha que o sustentar em dependências sempre egoístas e evitáveis que prejudicam o conjunto da Nação e retiram credibilidade ao sistema.
Para quê gozar de paz e reforma antecipada quando ainda se sente motivação e vontade de viajar e usar a vida? Todos sabemos que orgias e comezainas ou viagens prolongadas não são indicadas para a terceira idade.
O bom cidadão fica em casa com a sua reforma olhando a televisão, até morrer. Com raras e discretas deslocações à farmácia mais próxima. E ao cemitério, por uma questão de aclimatação prévia.
O bom cidadão é triste cumpridor e exemplar.
Ajude o Estado a servi-lo melhor. Morra cedo.
O Estado ama o bom cidadão.
A critica social
Ironicamente deliciosa
Deliciosamente irónica
vislumbro que este texto será integrado num próximo CD.
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as Portas que Abril abriu
As Portas que Abril abriu
Era uma vez um país onde entre o mar e a guerra vivia o mais infeliz dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras um povo se debruçava como um vime de tristeza sobre um rio onde mirava a sua própria pobreza.
Era uma vez um país onde o pão era contado onde quem tinha a raiz tinha o fruto arrecadado onde quem tinha o dinheiro tinha o operário algemado onde suava o ceifeiro que dormia com o gado onde tossia o mineiro em Aljustrel ajustado onde morria primeiro quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país de tal maneira explorado pelos consórcios fabris pelo mando acumulado pelas ideias nazis pelo dinheiro estragado pelo dobrar da cerviz pelo trabalho amarrado que até hoje já se diz que nos tempos do passado se chamava esse país Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras vivia um povo tão pobre que partia para a guerra para encher quem estava podre de comer a sua terra.
Um povo que era levado para Angola nos porões um povo que era tratado como a arma dos patrões um povo que era obrigado a matar por suas mãos sem saber que um bom soldado nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém que dentro de um povo escravo alguém que lhe queria bem um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança feita de força e vontade era ainda uma criança mas já era a liberdade.
Era já uma promessa era a força da razão do coração à cabeça da cabeça ao coração. Quem o fez era soldado homem novo capitão mas também tinha a seu lado muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado a defender um irmão esses que tinham passado o horror da solidão esses que tinham jurado sobre uma côdea de pão ver o povo libertado do terror da opressão.
Não tinham armas é certo mas tinham toda a razão quando um homem morre perto tem de haver distanciação uma pistola guardada nas dobras da sua opção uma bala disparada contra a sua própria mão e uma força perseguida que na escolha do mais forte faz com que a força da vida seja maior do que a morte.
Quem o fez era soldado homem novo capitão mas também tinha a seu lado muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo começou a floração do capitão ao soldado do soldado ao capitão.
Foi então que o povo armado percebeu qual a razão porque o povo despojado lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado em sua própria grandeza era soldado forçado contra a pátria portuguesa.
Era preso e exilado e no seu próprio país muitas vezes estrangulado pelos generais senis.
Capitão que não comanda não pode ficar calado é o povo que lhe manda ser capitão revoltado é o povo que lhe diz que não ceda e não hesite – pode nascer um país do ventre duma chaimite.
Porque a força bem empregue contra a posição contrária nunca oprime nem persegue – é força revolucionária!
Foi então que Abril abriu as portas da claridade e a nossa gente invadiu a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra na madrugada serena um poeta que cantava o povo é quem mais ordena.
E então por vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras desceram homens sem medo marujos soldados «páras» que não queriam o degredo dum povo que se separa. E chegaram à cidade onde os monstros se acoitavam era a hora da verdade para as hienas que mandavam a hora da claridade para os sóis que despontavam e a hora da vontade para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas encontros esquinas e praças não se pouparam as feras arrancaram-se as mordaças e o povo saiu à rua com sete pedras na mão e uma pedra de lua no lugar do coração.
Dizia soldado amigo meu camarada e irmão este povo está contigo nascemos do mesmo chão trazemos a mesma chama temos a mesma ração dormimos na mesma cama comendo do mesmo pão. Camarada e meu amigo soldadinho ou capitão este povo está contigo a malta dá-te razão.
Foi esta força sem tiros de antes quebrar que torcer esta ausência de suspiros esta fúria de viver este mar de vozes livres sempre a crescer a crescer que das espingardas fez livros para aprendermos a ler que dos canhões fez enxadas para lavrarmos a terra e das balas disparadas apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril de antes quebrar que torcer que em vinte e cinco de Abril fez Portugal renascer.
E em Lisboa capital dos novos mestres de Aviz o povo de Portugal deu o poder a quem quis.
Mesmo que tenha passado às vezes por mãos estranhas o poder que ali foi dado saiu das nossas entranhas. Saiu das vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras onde um povo se curvava como um vime de tristeza sobre um rio onde mirava a sua própria pobreza.
E se esse poder um dia o quiser roubar alguém não fica na burguesia volta à barriga da mãe. Volta à barriga da terra que em boa hora o pariu agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu.
Essas portas que em Caxias se escancararam de vez essas janelas vazias que se encheram outra vez e essas celas tão frias tão cheias de sordidez que espreitavam como espias todo o povo português.
Agora que já floriu a esperança na nossa terra as portas que Abril abriu nunca mais ninguém as cerra.
Contra tudo o que era velho levantado como um punho em Maio surgiu vermelho o cravo do mês de Junho.
Quando o povo desfilou nas ruas em procissão de novo se processou a própria revolução.
Mas eram olhos as balas abraços punhais e lanças enamoradas as alas dos soldados e crianças.
E o grito que foi ouvido tantas vezes repetido dizia que o povo unido jamais seria vencido.
Contra tudo o que era velho levantado como um punho em Maio surgiu vermelho o cravo do mês de Junho.
E então operários mineiros pescadores e ganhões marçanos e carpinteiros empregados dos balcões mulheres a dias pedreiros reformados sem pensões dactilógrafos carteiros e outras muitas profissões souberam que o seu dinheiro era presa dos patrões.
A seu lado também estavam jornalistas que escreviam actores que se desdobravam cientistas que aprendiam poetas que estrebuchavam cantores que não se vendiam mas enquanto estes lutavam é certo que não sentiam a fome com que apertavam os cintos dos que os ouviam.
Porém cantar é ternura escrever constrói liberdade e não há coisa mais pura do que dizer a verdade.
E uns e outros irmanados na mesma luta de ideais ambos sectores explorados ficaram partes iguais.
Entanto não descansavam entre pragas e perjúrios agulhas que se espetavam silêncios boatos murmúrios risinhos que se calavam palácios contra tugúrios fortunas que levantavam promessas de maus augúrios os que em vida se enterravam por serem falsos e espúrios maiorais da minoria que diziam silenciosa e que em silêncio fazia a coisa mais horrorosa: minar como um sinapismo e com ordenados régios o alvor do socialismo e o fim dos privilégios.
Foi então se bem vos lembro que sucedeu a vindima quando pisámos Setembro a verdade veio acima.
E foi um mosto tão forte que sabia tanto a Abril que nem o medo da morte nos fez voltar ao redil.
Ali ficámos de pé juntos soldados e povo para mostrarmos como é que se faz um país novo.
Ali dissemos não passa! E a reacção não passou. Quem já viveu a desgraça odeia a quem desgraçou.
Foi a força do Outono mais forte que a Primavera que trouxe os homens sem dono de que o povo estava à espera.
Foi a força dos mineiros pescadores e ganhões operários e carpinteiros empregados dos balcões mulheres a dias pedreiros reformados sem pensões dactilógrafos carteiros e outras muitas profissões que deu o poder cimeiro a quem não queria patrões.
Desde esse dia em que todos nós repartimos o pão é que acabaram os bodos — cumpriu-se a revolução.
Porém em quintas vivendas palácios e palacetes os generais com prebendas caciques e cacetetes os que montavam cavalos para caçarem veados os que davam dois estalos na cara dos empregados os que tinham bons amigos no consórcio dos sabões e coçavam os umbigos como quem coça os galões os generais subalternos que aceitavam os patrões os generais inimigos os generais garanhões teciam teias de aranha e eram mais camaleões que a lombriga que se amanha com os próprios cagalhões. Com generais desta apanha já não há revoluções.
Por isso o onze de Março foi um baile de Tartufos uma alternância de terços entre ricaços e bufos.
E tivemos de pagar com o sangue de um soldado o preço de já não estar Portugal suicidado.
Fugiram como cobardes e para terras de Espanha os que faziam alardes dos combates em campanha.
E aqui ficaram de pé capitães de pedra e cal os homens que na Guiné aprenderam Portugal.
Os tais homens que sentiram que um animal racional opõe àqueles que o firam consciência nacional.
Os tais homens que souberam fazer a revolução porque na guerra entenderam o que era a libertação.
Os que viram claramente e com os cinco sentidos morrer tanta tanta gente que todos ficaram vivos.
Os tais homens feitos de aço temperado com a tristeza que envolveram num abraço toda a história portuguesa.
Essa história tão bonita e depois tão maltratada por quem herdou a desdita da história colonizada.
Dai ao povo o que é do povo pois o mar não tem patrões. – Não havia estado novo nos poemas de Camões!
Havia sim a lonjura e uma vela desfraldada para levar a ternura à distância imaginada.
Foi este lado da história que os capitães descobriram que ficará na memória das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram o nosso abraço profundo aos povos que agora deram novos países ao mundo.
Por saberem como é ficaram de pedra e cal capitães que na Guiné descobriram Portugal.
E em sua pátria fizeram o que deviam fazer: ao seu povo devolveram o que o povo tinha a haver: Bancos seguros petróleos que ficarão a render ao invés dos monopólios para o trabalho crescer. Guindastes portos navios e outras coisas para erguer antenas centrais e fios dum país que vai nascer.
Mesmo que seja com frio é preciso é aquecer pensar que somos um rio que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar que nunca mais tem fronteiras e havemos de navegar de muitíssimas maneiras.
No Minho com pés de linho no Alentejo com pão no Ribatejo com vinho na Beira com requeijão e trocando agora as voltas ao vira da produção no Alentejo bolotas no Algarve maçapão vindimas no Alto Douro tomates em Azeitão azeite da cor do ouro que é verde ao pé do Fundão e fica amarelo puro nos campos do Baleizão. Quando a terra for do povo o povo deita-lhe a mão!
É isto a reforma agrária em sua própria expressão: a maneira mais primária de que nós temos um quinhão da semente proletária da nossa revolução.
Quem a fez era soldado homem novo capitão mas também tinha a seu lado muitos homens na prisão.
De tudo o que Abril abriu ainda pouco se disse um menino que sorriu uma porta que se abrisse um fruto que se expandiu um pão que se repartisse um capitão que seguiu o que a história lhe predisse e entre vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras um povo que levantava sobre um rio de pobreza a bandeira em que ondulava a sua própria grandeza! De tudo o que Abril abriu ainda pouco se disse e só nos faltava agora que este Abril não se cumprisse. Só nos faltava que os cães viessem ferrar o dente na carne dos capitães que se arriscaram na frente.
Na frente de todos nós povo soberano e total que ao mesmo tempo é a voz e o braço de Portugal.
Ouvi banqueiros fascistas agiotas do lazer latifundiários machistas balofos verbos de encher e outras coisas em istas que não cabe dizer aqui que aos capitães progressistas o povo deu o poder! E se esse poder um dia o quiser roubar alguém não fica na burguesia volta à barriga da mãe! Volta à barriga da terra que em boa hora o pariu agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu!
Lisboa, Julho-Agosto de 1975 José Carlos Ary dos Santos